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Hoje em dia, muito se fala sobre o design.
Design é importante, design não é importante, isso é bem “design”, design moderno, design ergonômico, design isso, design aquilo….
Mas na verdade, em meus contatos com clientes, percebo que a maioria não entende a abrangência, efetividade e o retorno que o design proporciona.
Como o design é visto
Para o típico cliente, o design [principalmente o gráfico, não tenho certeza de como é com os outros] se resume a saber colocar no computador, e depois imprimir, as informações necessárias. E para piorar, alguns desses clientes sequer acreditam na capacidade dos profissionais, que assim são tratados como um mero intermediário entre o contratante, que dita o que e como deve ser feito, e o resultado final.
De forma geral acredito que isso também aconteça com outros tipos de ‘design’ por aí, pelo menos alguns deles, em diferentes graus ou situações..
Para os leigos, a atuação dos profissionais se limitam ao operacional. Um designer gráfico só desenha, não pensa em branding ou estratégia de comunicação, um web designer escreve html e não lida com a experiência do usuário, ou ainda um designer de ambientes que faz decoração, ou no máximo um projeto paisagístico, mas nunca é chamado para lidar com o fluxo de pessoas em um ambiente fabril.
Um indício disso é que todos nós já estamos cansados de ser confundidos com profissionais de informática.
Quem nunca recebeu pedidos para configurar o windows ou word de um cliente?
Em outras palavras, para estes clientes, designer é um cara que sabe mexer no computador. E não muito mais que isso.
Apesar de ainda ser verdadeira, esta imagem está mudando. Muito lentamente...
Mas espero que continue mudando.
Dentre os responsáveis pela mudança estão aqueles que acreditam, dão liberdade e investem no design. Muitos deles já sabem dos seus benefícios, outros estão experimentando e colhendo seus frutos. Comprovando por si as vantagens.
Este resultado positivo muitas vezes dissemina o “vírus do design”, que contamina os demais profissionais envolvidos, que presenciaram o trabalho e comprovaram por si suas qualidades e profissionalismo. Contamina as empresas concorrentes, que não podem ficar para trás e também precisam investir. Contamina também o próprio consumidor, que está mudando seu conceito de qualidade, agora que recebe um produto com maior valor agregado em termos tanto estéticos quanto funcionais, carregado de…
...adivinha…
Design!
O que é design na literatura acadêmica
“Trabalharemos o design enquanto atividade que privilegia o planejamento e organização (desde um edifício até uma caixa de fósforo) de elementos estéticos-funcionais, um conjunto viabilizado pelas possibilidades técnicas disponíveis numa determinada época e lugar, visando à efetivação dos objetivos traçados para o produto em questão.”
Kopp, Rudinei - Design gráfico Cambiante.
Aqui no Brasil, Design é a denominação comum entre várias especialidades que são aplicadas basicamente entre os meios físicos [objetos ou espaços tridimensionais], imagéticos [imagens] e das ideias [ideias, conceitos, métodos, soluções, etc].
[Não sobrou muita coisa, certo?]
Uma breve busca sobre sua definição nos apresenta o design como uma combinação de diferentes áreas como arte, cultura, ciência, técnica, e outros, em resultados objetivos, funcionais e, mais que tudo, adequados às necessidades do projeto. As diferentes definições estão sempre ligadas a algo multifatorial, multidisciplinar e ao conceito de projeto.
Todas as especialidades são essencialmente multidisciplinares, algumas mais outras menos, e cada uma possui suas especificidades.
Seguem algumas definições de algumas das áreas do design. Vale notar que existem outras áreas, que não estão aqui, mas a maior parte dos conceitos se aproximam.
“O design gráfico é um processo técnico e criativo que utiliza imagens e textos para comunicar mensagens, ideias e conceitos, com objetivos comerciais ou de fundo social.”
ADG Brasil [http://www.adg.org.br/ - nov 2016]
“Design Industrial é o serviço profissional de criação de produtos e sistemas que otimizam função, valor e aparência para benefício mútuo do usuário e do fabricante.
Os designers industriais desenvolvem produtos e sistemas por meio de análise e síntese de dados direcionados pelas especificações próprias de seus clientes e produtores. Eles desenvolvem claras e concisas soluções utilizando-se de desenhos, modelos e descrições. Designers industriais aperfeiçoam, assim como criam, e muitas vezes trabalham dentro de grupos multidisciplinares que incluem gerenciamento, marketing, engenharia e especialistas em manufatura.”
Sociedade dos Designers Industriais da América, tradução livre [http://www.idsa.org/education/what-is-industrial-design - nov 2016]
“Design Industrial é um processo estratégico de solução de problemas que leva à inovação, sucesso do negócio, e à melhoria da qualidade de vida graças a produtos inovadores, sistemas, serviços e experiências. Design Industrial cobre o hiato entre o que é e o que é possível. É uma profissão transdisciplinar que utiliza-se de criatividade para resolver problemas e cocriar soluções com intenção de fazer um produto, sistema, serviço, experiência ou negócios, melhores. Em sua essência, Design Industrial provê uma maneira mais otimista de se olhar para o futuro ao rever problemas como oportunidades. Ele liga inovação, tecnologia, pesquisa, negócios e consumidores para fornecer novos valores e vantagens competitivas através das esferas econômicas, sociais e ambientais.”
Conselho Internacional das Sociedades de Design Industrial, tradução livre [http://www.icsid.org/about/definition/ - nov 2016]
“Designer de interiores é o profissional que atua numa atividade criativa e de caráter multidisciplinar dedicada ao planejamento da ocupação e do uso de espaços construídos ou não, de uso residencial, empresarial, institucional, misto ou efêmero, tendo o usuário como foco de projeto e considerando os aspectos funcionais, estéticos e simbólicos do contexto socio-econômico-cultural em que atua, de modo a resultar em ambientes confortáveis e eficientes às demandas instituídas, contribuindo para o bem estar e a qualidade de vida dos seus usuários.”Como pode-se notar, os pontos em comum são a ideia de projeto [e suas especificidades], multidisciplinariedade, solução de problemas, problemas complexos, análise e síntese de dados e a preocupação com função e estética. Tudo isso sempre com foco no usuário e a criatividade como pilar central de suas soluções.
Associação Brasileira de Designers de Interiores [http://www.abd.org.br/novo/f01/docs/estatuto/2016-estatutoabd.pdf - nov 2016]
Em seu livro, Camilo Belchior associa a função e a estética a pequenos prazeres que o usuário final usufrui ao consumir produtos com design.
Os prazeres de natureza emocional estão naturalmente associado à estética, à beleza do produto e ao que sua imagem, formas, cores e texturas nos remetem. Os de natureza funcional, obviamente dependem da funcionamento ou da utilização do produto, se é adequado, facilidade de manuseio, etc.
“Portanto, caberia, ao designer, elaborar projetos que tenham características capazes de proporcionar esses dois tipos de prazeres aos seus usuários. aqueles de natureza emocional são mais imediatos, devendo merecer atenção prioritária dos projetistas. Se uma pessoa decidir que não gosta de um produto, em seu primeiro contato emocional, dificilmente essa opinião será modificada posteriormente, durante o uso, pelos benefícios funcionais.”
Camilo Belchior - Iphone: Objeto de desejo
Não pretendo me aprofundar neste tema, mas acredito que esta é uma das grandes funções do design, o que o difere das engenharias, e das artes, o situa como uma combinação da função com a emoção.
Bem, continuaremos na semana que vem.
Até lá!
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