Criatividade - Quem e Porquê

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Todo mundo é criativo?

Como já disse, acredito que não existe um patamar mínimo para uma ideia ou pessoa ser considerada criativa. Ela pode até ser menos do que outra, ou muito pouco criativa, mas não existe zero criatividade.


Portanto, acredito que sim, todos somos criativos, em maior ou menor grau e em áreas específicas ou não.


É importante ressaltar que na maioria das vezes, o que acontece com aqueles conhecidos como sendo criativos, ou ditos “indivíduos privilegiados” na verdade está relacionada muito mais à preparação e a dar duro durante o processo de criação.


Porém, também acredito que muitas vezes essa diferença está no quanto você consegue e no quanto se permite sair da caixa.


Nesta apresentação do TEDx, o estudioso da criatividade Balder Onarheim mostra que o nível de criatividade de alguém em determinada área é, depois de certo ponto, inversamente proporcional à expertise nesta mesma área ou assunto.


Ou seja, ao contrário do que imaginamos, quanto mais alguém se torna conhecedor de um tema, menos criativo ele se torna neste tema.




A maioria das pessoas crê que quem é criativo tem um dom, é privilegiado, nasceu assim. Também acredita que quem não é, nunca poderá tornar-se assim tão criativo.


Mas então por que uns são mais criativos do que outros?



Já reparou que muitas vezes as pessoas criativas são consideradas estranhas ou diferentes?


Acredito que em parte seja porque essas pessoas possuem traços de personalidade similares, agem e se portam de forma semelhante. Muito do que elas são e da sua história de vida se combina, resultando em traços de criatividade. Nada acontece por acaso.


Acredito também que  a relação entre algumas características pessoais e a capacidade criativa é uma via de mão dupla: pessoas ‘diferentes’ não têm tantas restrições [sociais, principalmente] e pessoas criativas não podem ter tantas restrições.


Vamos discutir isso mais profundamente mais a frente, mas dentre os principais pontos podemos destacar:
[Esta lista é baseada nas minhas próprias impressões e conclusões, as de especialistas estão mais à frente]


    • Costume, prática

Em nosso cérebro, conceitos, conhecimentos e ideias estão representados por um conjunto de neurônios e suas conexões, que podem ser alterados ou fortalecidos ao longo de nossa vida.
Conforme crescemos, as conexões mais usadas são constantemente reforçadas, e aquelas pouco usadas vão perdendo a força. Este processo acaba por estabelecer conexões “fixas” e desligar aquelas desnecessárias.
A estrutura cerebral resultante dificulta a associação de ideias pouco usadas ou pouco combinadas anteriormente. Ideias cujas conexões já perderam a força.
A prática da criatividade estimula o nosso cérebro e o força a criar conexões entre áreas anteriormente desconexas, além de treinar a própria habilidade de se ter ideias.
Esta prática leva sim a um aumento geral da criatividade. E não precisamos, necessariamente, direcioná-la a uma área de interesse.


É como exercício físico: trabalhar áreas específicas é mais eficiente sim, mas qualquer exercício  melhora o conjunto em geral.
    • Liberdade

Quando falamos de liberdade estamos nos referindo a vários tipos:
      • Liberdade para pensar fora dos padrões sociais [tem muita gente que simplesmente não se permite];
      • Liberdade do padrão pessoal de pensamento. Algo como uma flexibilidade ou adaptabilidade mental;
      • Liberdade mental para saltar de uma caixa para outra aparentemente sem relação;
      • Liberdade da “imagem” mental que cada um tem de si. Uma pessoa que não se vê criativa vai ter dificuldades de pensar em uma ideia diferente. Uma pessoa excessivamente rígida, dificilmente vai se abrir a novas ideias.
    • Inconformismo questionador

      • Curiosidade é o termo chave aqui, e quanto mais amplo o foco desta curiosidade, mais provável da pessoa surgir com ideias criativas;
      • Esse tipo de pessoa nunca se dá por satisfeita, e está sempre se perguntando os quês e porquês;
      • Essa atitude ajuda a compreender o problema, a situação e as pessoas, a entender tudo sob um novo ponto de vista e a desmontar ideias e conceitos em partes menores e mais modeláveis.
    • Observadora

A pessoa observadora capta a essência dos problemas, das pessoas, do meio e de todo o sistema que envolvem as questões do problema e soluções.

  • Torna-se extremamente poderosa ao ser combinada com o inconformismo questionador. A pessoa observadora e questionadora percebe problemas onde os outros não percebem, e surge com soluções criando possibilidades antes não existentes

    • Receptividade a novas ideias, conceitos e padrões.

      • De que adianta isso tudo se a pessoa geradora de soluções não aceita novos conceitos, novas ideias?
      • As soluções geradas serão realmente inovadoras? Serão tão eficientes, eficazes, adaptadas ou sequer certeiras quanto uma ideia desruptiva?
      • Se ninguém aceitasse o diferente, o novo, imagina quantas possíveis inovações seriam perdidas. Como saber quantas soluções para problemas graves da humanidade nunca foram para frente simplesmente porque as pessoas que poderiam gerar essas ideias foram incapazes aceitá-las?


Naqueles naturalmente diferentes ou criativas essas características muitas vezes surgem e se desenvolvem juntas, naturalmente.


Mas talvez no seu caso você tenha que desenvolver uma e outra a fim de ser mais criativo.


Quais seriam?


Já pensou sobre isso?


Vamos passar um exemplo do tipo, da ‘categoria’ de gente mais criativa que todos nós conhecemos. Elas sempre têm soluções simples para qualquer tipo de problema apresentado, muitas vezes nos surpreendem com ideias incríveis, questionamentos simples mas que não sabemos responder e até constatações óbvias do nosso dia a dia, as quais nós nunca havíamos reparado.


Estamos falando das crianças!


:D


Da onde vem a criatividade nas crianças?



Antes de tudo, as crianças atendem a todos os pontos anteriores!
  • Vivem tendo ideias. [prática diária];
  • São observadoras e questionadoras, querem aprender sobre tudo;
  • São completamente livres, pouco se importam com o que pensam dela nem têm uma imagem de si que interfira em sua fonte de ideias [e em alguns casos é justamente o contrário! Quem nunca ouviu alguma coisa como: “eu posso fazer isso porque sou criança”?].
Outro fator importante é que o cérebro das crianças ainda está em formação, portanto cheio de conexões e sinapses “desnecessárias”, o que facilita a relação aparentemente aleatória entre conceitos completamente díspares. [Isso ainda é um pouco discutido, mas vamos aceitar como fato];
Como diz o pesquisador Balder Onarheim [na mesma palestra do Tedx aqui de cima]: “Conforme crescemos nós criamos mais e mais ‘caixas’ e perspectivas diferentes, tornando muito mais difícil a associação entre coisas que não foram colocadas na mesma caixa por outra pessoa.  [https://youtu.be/g-YScywp6AU?t=6m43s]



No vídeo ele diz [em relação ao teste dos nove pontos] que
“os adultos se prendem a uma regra dada por um professor de matemática há muitos anos”. Mas essa regra não existe aqui, nessa situação!


Em comparação às crianças, adultos são ‘conhecedores de tudo’, tem mais expertise em praticamente todas as áreas da vida.


Como já foi dito, o autor diz que conforme crescemos, nós colocamos os nossos conhecimentos e experiências em “caixas” separadas, e temos muitas dificuldades de pegar elementos de caixas diferentes para criar uma única ideia. Sem perceber nós criamos regras para tudo na vida, e acabamos por ficar presos a elas.


Para as crianças, o Mundo ainda é uma única grande caixa bagunçada, onde conceitos completamente diferentes estão entulhados lado a lado.


Isso porque ainda não sabem das “regras” que impomos às coisas.


Mais ou menos o que acontece quando nos iniciamos em algum conhecimento novo.


À propósito, já tem muita gente de olho no que as crianças e jovens estão fazendo.


Existe um grande prêmio internacional para cientistas pré universitários, o ISEF, que já premiou dentre outros:


E aí, ainda acha que as crianças só sabem brincar?



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